sábado, 17 de fevereiro de 2007

Tecnologia para sobrevivência

Ontem à noite, liguei a TV e comecei a passear pelos canais quando vi um japonês falando com tradução em legendas. A imagem cortou para a cena de um chip sendo implantado numa placa e, logo, parei de apertar o "canal +" do controle remoto. Era um alto executivo da Toshiba relatando fatos que ocorreram anos atrás e que foram decisivos para a empresa e para o mundo - principalmente no ramo de eletrônicos. A reportagem, produzida provavelmente no final de 2005, não era sobre a Toshiba ou outra empresa, mas sim sobre a indústria de semicondutores.

Acontece que a japonesa Toshiba revolucionou o mercado há alguns anos atrás com o lançamento de uma SRAM de 1MB, três vezes mais que seus concorrentes. Isso fez com que o domínio do mercado, até então americano, fosse abalado e o Japão despontado como uma das empresas líderes em tecnologia de ponta em equipamentos eletrônicos.

Com o rápido crescimento da Toshiba, diversas empresas buscaram entrar no ramo de semicondutores, sobretudo para a produção de SRAM. Estas empresas, com tecnologia há alguns passos atrás da líder do mercado, começaram a convidar engenheiros envolvidos no projeto da rival para fazer uma visita aos centros de tecnologia - o que "obrigava" os engenheiros a fazer um convite de volta, por questões de educação e ética profissional.

Dentre estas empresas, a sul-coreana Samsung se deu melhor. Convidou o engenheiros da Toshiba à uma visita, ofereceu o triplo do salário, apartamento, carro, empregados, secretária e tudo que um empregado pode receber, e acabou contratando cerca de 70 funcionários da rival.

A Samsung rapidamente cresceu. A Toshiba perdeu a liderança e tempo depois anunciou a interrupção do investimento em semicondutores.

O gerente de projetos da Toshiba, Dr. Fujio Masuoka, que tinha um projeto para uma memória que ele batizou de "Flash" - muito superior à SRAM - acabou indo para uma universidade. A empresa não investia em sua memória Flash pois sua política de lucros era de curto prazo e um investimento deste tipo requeria tempo e recursos.

A Samsung, porém, investiu na Flash e dominou o mercado.

O tempo passou, a Toshiba se reergueu e voltou a brigar.

O ex-gerente de projetos trabalha hoje numa nova memória: a SGT, uma espécie de Flash com armazenamento em 3D. Ele foi convidado por uma empresa da Arábia Saudita e eles irão fazer um investimento milionário nessa tecnologia. Só no novo funcionário foram U$ 82 milhões.

Fim da história, por enquanto.

 

Para o Japão e outros países, uma questão que a nós é quase impensada, para eles é uma obsessão: por esses países não terem recursos naturais, tem que se esforçar em se sobressair inventando soluções e tecnologias que o mundo se interesse e compre.

Acredito que como nós não temos esse problema, não encaramos da mesma forma e por isso também poderemos estar sempre um passo aquém.

Enquanto não mudarmos nossa mentalidade, um investimento público maciço em educação e tecnologia não for feito e estiver essa inconcebível carga de impostos, que engessa o investimento privado, nada poderemos fazer senão comprar - e não fabricar - tecnologia.

Aliás, voltando a falar em memórias Flash, hoje a usamos, compramos, trocamos e elas estão em todo o lugar: celulares, câmeras digitais, mp4 players, etc.

Isso até que, enfim, venha a SGT. Ou mesmo outra (como a MRAM). E, novamente, tenhamos de sucumbir à eficiência e a tecnologia alheia.

Infelizmente nossa "criatividade" não supera nosso atraso tecnológico.

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